30/06/13

Figueira da Foz/Buarcos: Arrendar casa 15 dias é luxo que já desapareceu

O arrendamento de casa de férias de verão na vila de Buarcos, Figueira da Foz, por períodos de 15 dias ou um mês, é um luxo que os turistas abandonaram, optando por uma semana ou poucos dias, revelam proprietários.

A vila piscatória de Buarcos sentiu menos do que a sede do concelho a quebra no arrendamento sazonal de casas de férias - explicada, nas duas últimas décadas, pela construção e compra de segunda habitação, em detrimento do arrendamento - e, em especial na zona em redor da igreja matriz de São Pedro, sucedem-se anúncios em portas e janelas, mesmo se o negócio enfrenta dificuldades.

"Está mau, muito mau, mais mau não pode estar. Há pouca gente para alugar, não há dinheiro, as pessoas não vêm", disse à agência Lusa Maria Saldanha, 85 anos e décadas de experiência no arrendamento de moradias de verão.

Se antes os acordos eram feitos ao mês ou 15 dias, agora os períodos não ultrapassam uma semana, ou ficam-se por dois ou três dias.

"Alugo quase sempre à semana. Tinha muitos clientes habituais, até do estrangeiro, agora é muito raro virem. Este ano ainda ninguém me ligou, está difícil mesmo", adiantou Maria Saldanha.

A proprietária, que reside no largo da Torre Eiffel, a poucos metros da igreja, não adiantou preços - argumentando que variam conforme as características das habitações e meses do ano -, dados que também Carlos Noronha Lopes, pároco de Buarcos, afirmou desconhecer, embora coincidindo nas mudanças a que o negócio tem estado sujeito.

"As pessoas vinham alugar por semanas e hoje alugam à noite e ao dia, podem estar dois, três ou um dia ou uma semana", frisou.

Carlos Noronha Lopes considerou "dramático" o cenário do lado de quem arrenda, porque, se os períodos de 15 dias ou um mês - hoje "um luxo, haverá um [arrendamento] em mil" - possuíam regras próprias, relacionadas com as condições oferecidas pelos proprietários aos turistas, num arrendamento ao dia "há que mudar tudo, fazer camas de lavado", um conjunto de pormenores que exigem manutenção diária das casas.

O pároco assinalou, no entanto, a característica "comum" aos povoados portugueses da beira-mar, nomeadamente nas comunidades piscatórias, que possuem "o gosto de acolher e receber bem".

"São capazes, inclusive, de ficar mal os próprios durante os dias que alugam, mas ter a preocupação que a quem chega nada falte”, disse.

Esta "maravilha de postura", acrescentou, é fundamentada pelas características intrínsecas dos residentes - "mais eles do que elas" -, que, quando navegam, têm a experiência de terem de ser acolhidos noutros portos.

Rua abaixo, também Ana Paula Nascimento arrenda casas, mas, ao contrário da sogra Maria Saldanha, revelou "falta de feitio" para andar na rua a angariar potenciais clientes.

Admitiu que o negócio "está muito pior" e que os períodos extensos de arrendamento já não existem: "15 dias é um achado, agora é uma semana, uns dias", sustentou.

Na praia da baía de Buarcos, junto às muralhas da vila, a reportagem da Lusa conheceu José António, que viajou de Vilar Formoso com a família para passar uns dias de férias.

Arrendou casa pela Internet, em março, ao preço de 150 euros por "uma semaninha", afirmou.

"Se fosse agora, se calhar, era mais caro. Com a crise acho um bocadinho exagerado, mas temos de fazer umas poupanças e aproveitar estes dias para vir com a família", justificou.

Não é a primeira vez que José António demanda a Buarcos, praia que considera "ótima", mas noutros anos "havia mais gente", reconheceu. 
(“Noticias ao Minuto”)